sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

CASA ARRUMADA Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


CASA ARRUMADA                              Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
 
Casa arrumada  é assim:
 Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
 Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
 e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
 Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
 passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
 ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
 Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.
Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra ci...rculação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Estado de Graça !!

O estado de graça, a tranquila felicidade vem de dentro, é um estado de ser, um estado de espírito, algo que nos faz preencher. O estado de graça é quando, obviamente para quem tem introjetado bons valores morais e éticos, sabemos que fizemos as coisas da melhor maneira que podíamos, que fizemos de coração, que fizemos com consciência, com profunda dileção. Sejam para nós mesmos ou para outras pessoas. Seja debaixo de sol ou de garoa. Estado de graça é quase uma levitação. É um sorriso nos lábios que nos pega de surpresa. É um estado de imensidão, de inundação. É mesmo um estado de leveza. Há uma lucidez. Há um languidez. Tudo parece realmente doce, talvez só com um pequeno toque agridoce.

(@[1775341258:2048:Veruska Queiroz], in: Fazendo graça)


"Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe. Neste estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça tudo é tão, tão leve."

(Clarice Lispector, in: A Descoberta do mundo)

O estado de graça, a tranquila felicidade vem de dentro, é um estado de ser, um estado de espírito, algo que nos faz preencher.
O estado de graça é quando, obviamente para quem tem introjetado bons valores morais e éticos, sabemos que fizemos as coisas da melhor maneira que podíamos, que fizemos de coração, que fizemos com consciência, com profunda dileção.
Sejam para nós mesmos ou para outras pessoas.
Seja debaixo de sol ou de garoa.
Estado de graça é quase uma levitação.
É um sorriso nos lábios que nos pega de surpresa.
É um estado de imensidão, de inundação.
É mesmo um estado de leveza.
Há uma lucidez.
Há um languidez.
Tudo parece realmente doce, talvez só com um pequeno toque agridoce.

(Veruska Queiroz, in: Fazendo graça)


"Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe. Neste estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça tudo é tão, tão leve."

(Clarice Lispector, in: A Descoberta do mundo)

Elegância



Elegância não se compra, não se vende, não se pede emprestado, não se empresta, não se copia, não a encontramos em meio termo.
Ou é ou não é. Ou se tem ou não se tem. Elegância vem de dentro.
Tem a ver com aparência sim, pois tudo o que somos por dentro, aparece também por fora, mas é muito mais um estado de ser e estar, uma questão existencial, uma questão de postura de vida. Elegância é de dentro para fora, sempre. Está impressa, inscrita na alma.
É o que somos, fazemos e temos como essência.
Elegância são olhos de céu e estrelas.
Elegância é recriar a nós mesmos e a vida, sempre, constantemente.
Elegância é lançar novos olhares sobre o mundo, é nos transformamos com o passar do tempo.
Elegância é mudar... mudar a ordem, mudar o olhar, mudar as ideias.
Elegância é a compreensão. Conosco e com os outros.
Elegância é não perceber tanto as falhas do outro e tentar corrigir as nossas.
Elegância é ter generosidade conosco e com os demais.
Elegância é o respeito a tudo e a todos, mesmo quando tudo e todos são diferentes de nós e principalmente quando tudo recomenda o contrário.
Elegância é a leveza de ser.
Elegância é relevar as mazelas humanas - inclusive as nossas - e da vida e seguir adiante.
Elegância é sorrir.
Elegância é fazer ao outro o que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos. Ou ainda o seu contrário: não fazer ao outro o que não gostaríamos que nos fosse feito.
Elegância é ouvir bonito. Ouvir até nas entrelinhas ou até mesmo o não dito. Mas elegância também é falar, falar a coisa certa, na hora certa, da maneira certa, com a pessoa certa. Elegância é também calar. Calar diante de quem mostra não ter ouvidos para escutar e calar principalmente diante da falta de elegância alheia e até, muitas vezes, da nossa própria.
Elegância é a compaixão. Elegância é ajudar. Elegância é o perdão. Elegância é conduta. É guardar para nós mesmos aquele comentário mais malicioso, aquele olhar em brasa, aquela risadinha teimando em ser irônica. Tenhamos certeza, isso é mais nocivo a quem faz do que a quem recebe. Elegância é ir ao encontro de. Mesmo que haja algum mal estar - justificável ou sem causa que o embase com motivo justo - algum entrave ou obstáculo.
Se há a consciência tranquila e em paz, o mal estar, o entrave e o obstáculo ficarão para o outro decidir o que fazer com eles.
Elegância é também saber dizer não a algumas situações e pessoas que ultrapassam a linha do respeito ao outro e em tudo o que se refere ao outro: direitos, liberdade, espaço.
O elegante sempre tem como premissa o respeito. E também a ética e a gentileza. Aliás, o elegante é sempre gentil e tem na conduta ilibada seu maior suporte. O elegante nunca sai falando de pessoas para outras pessoas, a não ser que seja para dizer bem. Quem não é elegante, fala de uma pessoa com a outra e fala da segunda para uma terceira, fala da terceira com uma quarta e por aí vai, ou seja, fala de todas as pessoas para todo mundo. Portanto quando ouvirmos um deselegante falar de alguém conosco, tenhamos certeza, ele também falará de nós para outra pessoa. Que feio. Que triste. Falta de elegância total.
Quem não é elegante melindra-se facilmente ou adota posturas arrogantes. Como é fácil identificar um deselegante. O elegante tenta resolver a questão, promove segundas e até terceiras chances, conforme o caso e a(s) pessoa(s) envolvida(s) e se não for possível e não houver o que possa ser feito, esquece e segue. Bem simples. Porque elegância também é maturidade e faz parte da maturidade a delimitação de certos limites para quem não aprendeu ou não quer ser elegante.
Elegância não é a perfeição – só um deselegante pensaria assim, mas esforços diários para aprimoramentos, para superação das próprias dificuldades, adversidades e limitações, principalmente as pessoais. Elegante é quem entende isso, porque também encontra-se no mesmo barco do aprimoramento diário.
Elegante é pedir desculpas, tentar consertar o erro e se não der, levantar a cabeça com muito orgulho e ter em mente que fez-se o que se pode e seguir adiante.
A vida é curta, valiosa e tem muitos elegantes ainda para conhecermos e os que já convivemos.
O elegante sabe que não pode carregar o mundo nas costas e nem se culpar por inúmeras situações do planeta que não dão certo.
Elegância é fazer o seu máximo com alegria e dar o sangue por algo ou alguém com que comprometeu-se, mas também não aceitar a benevolência mascarada como moeda de troca de afeto. Não deu, não foi possível por algum motivo, bola para frente.
Elegância é não atrapalhar se não puder ajudar e ajudar sempre que puder.
Elegância é dizer muito obrigado(a), por favor, bom dia, boa tarde, boa noite.
Elegância é a gratidão. Elegância é o amor, o carinho, o afeto genuíno, o sorriso legítimo e sincero. Elegância é não podendo ser sincero, por conta da ética de dentro, ser gentil, educado e civilizado, pelo menos, sem confundir essa postura como falsidade. Só um deselegante as confundiria. Elegância é coração e alma.
Elegância é sentir por dentro, SER por dentro.
Elegância é tudo o que, pelo avesso ou quando não há olhares a nos observar, pode ser feito da mesma maneira e é belo da mesma maneira que é o lado direito.
Elegância são nossas posturas e condutas ilibadas em tudo na vida, principalmente quando não temos de "cumprir" nenhuma regra social.
Elegância é nosso verdadeiro eu. Elegância é o que nos impele a ser. É COMO somos, sem máscaras, nús, diante de nós mesmos e somente nós. Se somos mesmo elegantes, não existirá juiz melhor que nossa consciência despida diante de nós mesmos para dizer sobre nós, sem maquiagem nem verniz. E cada um sabe exatamente como é nesses momentos.
Elegância são sobretudo e principalmente nossas atitudes. E nossas atitudes são vistas, sentidas. Não precisamos mostrá-las nem prová-las a ninguém. Ela estão e estarão conosco. Nós sabemos delas e elas são parte de nós. E se forem mesmo legítimas, não nos preocupemos, pois todos também sentirão, verão e saberão. E se não forem... Bem se não forem... A elegância impede-me de dizer o que pode acontecer nestes casos e sempre acontece. Elegância sempre.

(Veruska Queiroz, in: A arte da elegância)
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"Quero tudo novo de novo.
Quero não sentir medo .
Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais .
Viajar até cansar.
Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais.
Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo.
Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto.
Quero morar sozinho, quero ter momentos de paz.
Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque.
Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem.
Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais.
Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás.
Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa.
Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa.
Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão.
Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”.
Quero não sentir tanta saudade.
Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".
Fernando Pessoa...